LETRAS/ LYRICS
Escritas pelo próprio George Christian, exceto onde indicado.
Written by George Christian, except where appointed.
Do álbum Às Vezes Sempre (2010)
dança das colisões (outubro de 2008)
sem tempo para ter tempo
sua face me gritou qual um diamante
após consumada uma derrota... ou uma revolta... ou uma vitória... ou a história
de não ter tempo para ser o tempo
eis o peso de uma imensa estrela
ASTÉRIA em suas artérias, amnésias em uma era, féericas férias
não há porque lamentar se esta é a nossa miséria
há-de se temer a inércia – e nada mais...
e quanto mais ascende a clareira de mais uma lágrima,
mais brotam as cicatrizes de uma passagem pela terra,
liquefaz-se a pétala de frágil poema e de
ausente brincadeira
sem tempo de ver o tempo, eis o centro
de sua estrela em mais uma vereda,
eis um dilema de glissandos e staccatos,
zunidos à ausência veloz
de abrigos para as chuvas
de um áspero e desdentado sorriso às ru(í)nas
constelamares de desperta espera
um último copo d’água adensa a alma
ascese do suspiro:
transpiração
minha mãe, grito por um adeus
meu pai, campo de batalha
um sufoco
por
um socorro
o que quer que tenha caído,
nunca será meu
mas
do universo um vôo
catarses de esquecimentos
berço de memórias
e
memórias de berço
esquecimentos de catarses
um vôo do universo
mas
nunca será meu
o que quer que tenha caído
um socorro
por
um sufoco
batalha de campo, meu pai
um adeus por grito, minha mãe
transpiração:
suspiro da ascese
a alma adensa um último copo d’água
perdas
(e)
ENGLISH:
dance of collisions (2010)
no time to have time,
your face yelled me like a diamond
after a consummate defeat... or a revolt... or a victory... or history
of not having time to have time,
here's the weight of a huge star
ASTERIA in your artery, ammnesia in an era, fantastic vacations
there's no need to regret if this is our misery,
there's the fear of inertia - and nothing else...
as much as the glade of one more tear arises,
more the scars of a way in the earth sprout,
and the petal of a frail poem and
absent jest liquefies
no time to have time, here's the center
of your star in one more footpath,
here's the dilemma of glissandos and staccattos,
whistles to the quick absence
of shelters from the rains
of a harsh smile with no tooth to ru(i)n(e)s,
constellaseas of awaken waiting
a last cup of water accumulates the soul
ascension of the whisper:
transpiration
my mother, scream for a goodbye
my father, field of battles
a suffocation
for
a succor
what had to be fallen
won't never be mine
but
from the universe a flight
catharsis of forgetfulness
cradle of memories
and
memories from the cradle
forgetfulness of catharsis
a flight of the universe
but
won't never be mine
what had to be fallen
a succor
for
a suffocation
battle of fields, my father
a goodbye for scream, my mother
transpiration:
whisper of the ascension
the soul accumulates a last cup of water
(and)
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Do álbum Prelúdio Tardio (2011)
Sorriso do Sul (03 de março de 2008)
Você roeu a mosca daquele almoço
com o seu sorriso do sul.
O asco com o qual ela foi mordida fez-me engolir o osso
do sopro cardíaco de sangue azul
e lábios lâmina de barbear.
Onde a ponta de sensatez atingiu aquele infarto?
Estamos em março e ainda haverá o ocaso
farfalhando o ser de todo lugar (com o seu sorriso do sul).
É certo que eu esteja assistindo risos,
mas você, sorriso do sul,
traumatiza os pés da caminhada de escaras de turismo...
Paciente terminal de parecer nenhum,
silêncio que queima ostras...
Tocha humana do despejo de largada... a farsa
de seu espelho côncavo retroflexiona linguásas...
Paisagem forasteira, boiada solta... e o seu sorriso do sul?
O nevoeiro encoraja os seus olhares,
e você ri com seu sorriso do sul
ao lembrar do canto das cigarras em naves da fertilidade;
galáxias moveram a fecundação-tempo
ao lançar satélites, contatos de densos sóis,
madrugadas nuns lances de sinuca, eis o universo
constelado ao alto e imerso e disperso
até o negrume percevejo de lençóis em seus sorrisos do sul.
E não há mais nada a fazer a não ser sorrir
o que mais espelha nos dentes do sul?
Talvez a vida da morte e a morte da vida ao se despedir
e partir para outra jornada de cidadão comum
em desemprego de fusos horários,
desfruto de espaços nos domínios uterinos ao léu,
maremotos despertos onde já não há mais céu
cumprindo destinos de todo oráculo com seu sorriso do sul...
(aterrissado em lugar algum)
ENGLISH:
Southern Smile (Translation made in April, 2011)
You gnawed the fly of that lunch
with your southern smile.
The loathing with which it was bitten made me swallow the bone
of the blue blood’s cardiac whisper
and razor lips.
Where has the solidity’s tip reached that infarction?
We’re in March and still there’ll be the sinking
rustling the being in every place (with your southern smile).
It’s certain that I’m watching laughs,
but you, southern smile,
traumatize the walking feet of tourism’s eschars…
Terminal patient of no opinion,
silence that burns oysters…
Human torch of start dump… the farce
of your concave mirror retroflex winged-tongues…
Outsider landscape, loose cattle… and your southern smile?
The mist encourages your sights
and you laugh with your southern smile
when you remember the cicadas’ singing in fertility’s vessel;
galaxies moved the time-fertilization
when launching satellites, heavy suns’ contacts,
dawns in snooker’s moves, here’s the universe
highly constellated, immersed and scattered,
‘till the bedbug murk of sheets in your southern smiles.
And there’s nothing to do unless smiling
what mirrors most in your southern teeth?
Maybe the death’s life and life’s death when saying goodbye
and leaving for another ordinary’s journey
in unemployment of time zones,
enjoyments of places in uterine domains aimlessly,
awaken tsunamis where there’s no more sky
fulfilling destinies of every oracle with your southern smile…
(landed anywhere)
***
Terminal (Poema escrito em 16 de junho de 2006)
vá
e deixe sua sombra em paz...
eu sei...
janelas não se fecham mais
alimento ao pôr-do-sol
calma,
lençóis da escuridão...
tremores,
vertigens no sono da sede
eu peço
oração ao frio vento,
silêncio
de olhos que cortam o ar...
ENGLISH:
Terminal (Translation made in April, 2011)
Go
and leave your shadow alone…
I know…
windows don’t close no more
Feed for the setting of the sun
Calm down,
sheets of the darkness…
Trembles,
dizziness of the thirst’s sleep
I ask
prayer to the cold wind,
Silence
of eyes that cut the air…
**************************************
Tardio (Poema escrito em 03 de fevereiro de 2004)
manhã tardia numa noite amanhecida
prometo promessas que não sei se as farei
matando o dia em manhã envelhecida
de um quarto desgastado em fotos que sonhei
noite tardia numa manhã adormecida
sombras se tornam vultos da fé que verei
arder em chamas de velas entristecidas
pela soma de desperdícios que criei
não se imploram chuvas em todo céu nublado
não se movem os ventos pelos dias mortos
o ar que você aspira não é o que o seu ar é de fato
o meu ar foi incendiado pelo fogo-fátuo
do vão de todos os meus gritos; pensei em seus olhos
nascentes e cabisbaixos no sol dos portos
********************************************************************
ENGLISH:
Late (Translation made in Sept. 20, 2009)
Late in the morning in an evening dawn
I make promises I don't know if I will
By killing the day in an aging morn
Of a worn room in photos I dreamt of
Late in the night in a sleeping morning
Shadows become figures of the faith I'll see
Burning in flames of saddened candles
For the amount of waste I've created
Don't beg rainfalls in all the cloudy sky
The winds don't move for the dying days
The air you breathe isn't what your air really is
My air was flared up by the night fire
Of the vanity of all my screamings; I thought
Of your rising droopy eyes in the sun ports
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Do álbum La Géographie sans Regret (2012)
Túneis (poema escrito em 20/11/2011, baseado num poema original escrito em 2003)
ainda preciso de uma ponte entre a estrada escura e vazia
e o movimento à revelia
as vitrines são como fantasmas de sons supérfluos sem passado
a um novo tempo em descompasso
não há mais perfumes em meu corpo
aonde quer que eu ande, corro contra o tempo
os túneis estão abertos, não cobram pedágios
nem documentos
ficou uma dor nebulosa aqui entre todas essas fronteiras
ao vagar sem planetas
e ela nunca pede licença por permanecer sem ter um ser
a cobrar por um lar
ENGLISH:
Tunnels (poem written in 11/20/2011, based upon an original poem written in 2003)
I still need a bridge between the dark and empty road
and the movement in absentia
the windows are like ghosts of unnecessary sounds without past
to a new era of missteps
there’s no more perfume on my body
wherever I walk, I run out of time
the tunnels are open, they don’t charge tolls
and no documents
there’s a cloudy pain here among all these boundaries
wandering with no planets
and it never asks permission to remain without a being
charging for a home
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Abismo de Cravos (originalmente escrita em 2004)
chão, aonde vai quando me escapa?
tenho receios de que venho me cortando demais.
levado em sua legião de farpas,
de encontros de intimidades de escravos.
acabo de saber que não sou capaz
de ser mais um em você...
expulse-me, vamos, do abismo de cravos,
onde sou muitos, tão cru e só,
traças destroem o silêncio de seus centavos
que você paga para me desatar o nó
a cidade é cheia de cinzas do ermo
que você era quando não era demais.
tocas de raposas lhe davam servos,
era o princípio, era a era, era o fato
que existia até que alguém desfaz
o que há de convir em você...
a fome dos cravos é uma derrota
que ronca canções atordoantes demais...
seu cérebro zera as minhas esmolas
sem vestígios, sem vestidos, sem litígios.
desocupo-me com o voo de sinais
que eu mando a você...
ENGLISH:
Abyss of Carnations (originally written in 2004)
ground, where are you when you escape me?
I'm afraid I'm cutting myself for too much.
taken into its legion of barbs,
of meetings of intimacy of slaves.
now I've found out that I'm not able
of being just another one into you...
so, c'mon, cast me out from the abyss of carnations,
where I am many, so raw and so alone,
moths destroy the silence of the cents
that you pay me for to untie the node
the city is full of ashes from the wilderness
that you were when you weren't too much.
burrows of foxes gave you servants,
it was the beginning, the era, and the fact
that existed until someone breaks
what must covey into you ...
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Voo Cinzento (16/07/2001, reescrito em 15/06/2004)
voo cinzento num corpo macilento
machucando-a eternamente com o vento,
e o pai ainda pensa que a segura neste cimento
terremotos ganhos por mortos
destruindo por encherem-na num corpo,
e o pai ainda pensa que a vê com seus próprios olhos
verdes afetos abortados como fetos
abrindo feridas carcomidas por insetos,
e o pai ainda pensa que há sustento neste teto
e o pai ainda pensa que a vê com seus próprios olhos
o cimento de seus olhos neste teto
precisa de uma porta,
e ele a olha, e ele a olha
à luz
de um voo
cinzento
o lamento de sua filha neste voo
precisa de um pai
que a desperte e a liberte
à luz
de um grito
à luz
ao vento
cinzento
ENGLISH:
Ashen Flight (July 16, 2001 (rewritten in June 15, 2004))
ashen flight in a peaked body
hurting her forever with the wind
and the father still thinks that holds her in this cement
earthquakes gaining for killings
destroying by filling her in a body
and the father still thinks that he sees her with his own eyes
green affections aborted as fetuses
opening wounds eaten by insects
and the father still thinks there is support in the ceiling
and the father still thinks that he sees her with his own eyes
the cement of your eyes in this ceiling
needs a door
and he looks and looks it
at the light
of a flight
of ashes
the lament of his daughter on this flight
needs a father
that wakes and releases her
at the light
of a cry
at the light
at the wind
of ashes
the carnations' hunger is a defeat
that snores painful songs for too much...
your brain resets my charities
without a trace, without clothes, without litigation.
I empty myself with the flight of signals
that I send just for you...
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Muito Mais Longe do que o Bastante (11/12/2008 – nova versão: 14/6/2012)
muito mais longe do que o bastante,
perto demais de ter o instante
de surda luz, indômitos cavalos mentem fases ao fardo lunar
velhos demais de tão incertos,
jovens demais de tão despertos,
os olhos nus não enxergam mistérios,
mas suas sombras acordam universos
planetas fogem e colidem rotas
de vidas cegas sem voltas
estrelas em eclipse na longa estrada
de sol a Sol
muito mais longe do que o bastante,
mais absorto e mais vacilante,
não mais homem do que um simples feto ao nadar nos espelhos
quando não há nada mais do que o nascimento
devo ser liberto de tantas amarras
devo ser repleto de novas respostas
devo ser o sol no pó da estrada
de sol a Sol
ENGLISH:
MUCH MORE FARTHER THAN ENOUGH
(December, 2008/ June, 2012)
much more farther than enough
too close to have the moment
of deaf light, indomitable horses lie the burden lunar phases
too old to be uncertain,
too young to be awaken,
the naked eye cannot see mysteries,
but their shadows agree universes
planets collide and escape routes
of lives without blind turns
stars eclipsed in the long run
from sun to sun
much more farther than enough
more absorbed and hesitant,
not much a man than a fetus while swimming in the mirrors
when there’s nothing more than the birth
i must be freed from so much tethers
i must be full of new responses
i must be the sun in the dust of the road
from sun to sun
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Do álbum Afluentes (2013)
Wish Wash (Lyrics by George Christian, inspired by a Danielle Demos' theme)
Poem written in July 10th, 2009.
well, your time upon the Earth....
is circling through a washing machine (left unpractical)....
of your Self....
.. ..
all you have to do is WALK your duck....
to the lagoon of melting ice....
where I see in the destiny of your eyes....
.. ..
the recording industry does not care ....
about the history of your memory…....
.. ..
all you have to do is WALK....
the march of desperate souls....
in your outfit....
.. ..
your dreams are washed AAAAWAAAAAAYYYY!!!!!!!!!!!!....
.. ..
(do you need any buck?) (GO GET A JOB!)....
.. ..
inside the cancer of the times,....
you go UPsssss… TAAAAAAAAAAAIIIIIRS....
(with the absence of responsibility of elevating ....
....
your Self)....
.. ..
you cannot punish yourself....
because of the color of your skin…....
then, why the regret?....
… why the regret?....
.. ..
how could you… fuck yourself....
when you don’t have SEX....
to elevate your SELF?....
.. ..
you’re just an innocent angel doped with your sleeping pills....
dancing into the veil of Irony, Ivory Irony…....
.. ..
sleepwalking while… AWAKES....
the laughing stock of mochery....
in ..Paradise......
.. ..
(come on, sing-along this lullaby with me:)....
and your dreams have to washed AAAAAWAAAAAAAYYYYYY!!!!!....
.. ..
(do you need anything else?) (GOOD LUCK!)....
.. ..
the inner lunacy is reflected underwater....
where a translucent museum of broken skyscrapers was built....
to glorify....
your wishes....
washed....
wissshhhh…....
waaasssshhhh…....
....
“Your desire is an ORDER”....
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(Terminal) with a Dress (2008)
Lyrics by Tod Shelton
I would be. alone.
If I could not take a home.
A home alone...
Could not expose I to none.
I would be neutral...
In a chorus of radical format.
Classics that break my face.
My nose is gushing.
That's kind of you.
Right away- I learn- cold plastic- by children.
Know one no one I'm not ill...
I be sick- cold with a body.
My own legs I love...
To walk with myself...
On My own street...
I met you walking your...
Cat, sexually dressed I touched-
Myself in a costume...
In a dress...
In a pair of.
Your old paints...
I stained them with my protein.
NO ONE LISTENS TO ME.
I TRIED TO FORCE THEM TO SAFETY
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Do álbum desvãos do sol (2014)
aurora louca
escrita em 10/10/2001
(atualização: 2/7/2006)
aurora louca
a hora louca e afoita
a procurar numas bocas
o que nunca foi o seu natural
a fome ao engolir
as neves do porvir
a tormenta por tanto ir
às bocas como água sem sal
cor-de-sangue, à mercê de balas perdidas,
de facas mutiladoras de palavras
e de pedidos por mais alguns trocados
a aurora louca
aroma em crepúsculos
desprezos aos goles de apuros
enganos de velhos mundos
aurora insípida e de fogos-de-artifício
procura o seu sal
procura o seu sal
aurora louca
aura louca e afoita
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véspera de nada
escrita em 12/05/2014
eu não
sou
porém
serei
o que
não sou
à toa
se assim
me quer
existo
se não
não se
iluda
senão
se o sim
se der
assim sou
ou nada
Do álbum Paz Revolta (2016)
lua nova
14/09/2011
lua nova que rompe a tarde
à margem não vou estar
em ser o sol de toda parte
à face, ao vento, vejo o medo
que não está em todo o mar
ao mergulhar o tempo
de lançar-se em cada olhar
e não mais brilhar tão cedo
lua nova que fecha o sono
e ceifa o novo ar
leve o tempo de cada outono
e brote a névoa a gear
novas vidas num só toque
à sorte de semear
sopros em revoadas, vozes
em mortes por amar
lua nova que rompe a tarde
à margem não vou estar...
*****************************************
the way the life is
04/04/2011
well, it must be
the way the life is
giving some chances
losing expectations
finding how much they hurt your life
to learn what's the answer
to learn how to live
(to learn how to love)
it's so strange, so strange...
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paz revolta
(14/08/2016)
paz, volta,
voltar à paz
paz, se volta,
revolta-se a paz
paz revolta
re-volta(-se) em paz
revoltar a si
em paz
paz de volta, paz revolta
(re)volta-se em paz
Do álbum Exílios 1 (2017)
lançado ao uno
(01/01/2011)
no limiar do sem tempo,
estou prestes a explodir
o que minha sombra
acolheu em mim
atendo ao seu chamado,
peço que me diga, Morfeu,
por que, por acaso
peço por seu adeus
não adianta blefar com o ocaso de um corpo
pois perto estou da chama e você há de pedir socorro
enquanto dorme e descansa
corpos celestes haverão de ser sacrificados
e dilacerar-se-á toda hóstia nas ruínas do agora cristal
missal de asteróides
Cristo em orbes interplanetários
na morada do Sempre
Do álbum Exílios 2 (2017)
melhor não
2/6/2004 (atualização: 3/6/2008)
ela voou até um céu onde não mais existem estrelas-guias no oceano
desperdiçou-se com beijos em terras onde as flores não se abrem em campos santos
seu vestido em trapos habita um cemitério
cujas lágrimas se perderam num rosto incerto
diante da solidão
à espera de um melhor não para não viver
seus cabelos desgrenhados escondem uma beleza que não se danifica com o vento
não se sabe o que ela vela numa escuridão de repentinos esquecimentos
sua morte sabe como respirar a eternidade
sua aurora se expande em nuvens por toda parte
em qualquer estação
à espera de um melhor não para não viver
seus ossos frios são acobertados pelo vapor marinho de elétricas geadas
ela percorre caminhos com pés de gelo seco que incendeiam insólitas matas
ela não quer se reconhecer fantasma
mas se desorienta em corpos como nevasca
cai em violento tufão
à espera de um melhor não para não viver
arrastando pessoas como meros gravetos, ela as sacrifica nas úmidas florestas
ao fragilizar-se com o calor, ela busca em si o que sumiu em suas primaveras
vividas outonais em veraneios de invernos
abortada em vida, ela é um crescido feto
feito de imprecisão
à espera de um melhor não para não viver
nuvens de vidro
7/11/2004
nuvens de vidro acenderam seus olhos e eu chorei sangue
é uma noite de chuva e sem luas de foice cortando o instante
das janelas que os meus olhos visitam em memórias de transes
tudo que eu preciso saber é se morei em algum lugar
que me acolheu
em você
atrasos se desmarcam e eles se acorrentam a sonhos de novas eras
horas se derretem em horários de verão e eu durmo pedras
e as estrelas cadentes são os meus sonhos matutinos caindo...
que se ascenda do desejo
um pedido,
então
não espere
19/12/2006
sinto o olfato de mil anos
no orvalho das chamas
ventos de abandonados féretros
em feéricas casas
revive o fato de que tudo permanece
inclusive o fim
de que tudo merece o destino
de seus olhos
não me aguarde, não me guarde, não me arde
nos laços de seus braços;
sinta o real frescor de ser indomável
e não me espere...
pelo lado que aquece o seu rosto
há o medo que esfria o outro
espelhos partem e as sombras esguias
às gerações de mapas
certo estou de que não mereço perdão
pelo retorno que tributo
ao adiamento de todos os passados flutuantes
à quebra e ao luto
não me aguarde, não me guarde, não me arde
nos laços de seus braços;
sinta o real frescor de ser indomável
e não me espere...
Do álbum Exílios 3 (2018)
auroras do exílio 3
(título original: sucessivas surras)
20/8/2001
andamos e escalamos formigueiros
como se ainda estivéssemos insetos
os passos voam tão distantes de tudo
que, sem saber, revoam névoas inquietos
não há virgens, cafetões ou prostitutas
para arrastar um andar incerto
e indeciso de tanto receber
sucessivas surras dos ventos
destroem-nos com dinheiro e lábias
retorcidas de tanto engolirem subornos
amanhecem-nos para estupros diários
só para amedrontar rostos no lodo
querem milhas e milhas do alcance
de nossos olhos tratando-nos como tolos
por estarmos cegos de tanto receber
sucessivas surras dos ventos
o sol cegou-nos a fé e a faca
só para obtermos orgulho divino
a chuva molhou-nos as cinzas dos tempos
em que morríamos por estarmos vivos
e a noite surtou-nos os sensos
por medidas de segurança e o circo
se fez com inúmeros palhaços ao receber
sucessivas surras dos ventos
ensangüentados somos iguais uns aos outros
por sucessivas surras dos ventos dos deuses e dos demônios
livre
9/8/2002
entre as chuvas dos bairros
sobre os muros as pichações
dos aluviões
a moita tem tom sépio
traços grosseiros esperam os ônibus
eles estão vivos
o céu é igual em qualquer local
o dia acabou e eu aqui estou
tentando me esquecer
livre
bebe os sucos o vazio
de todos os anúncios e todos os preços
desde o berço
não começo
não cresço
regresso
27/5/2007
todos os anjos que se avizinharam às minhas sombras partiram em mim as idéias de regresso
de nada adianta
aos sonâmbulos olhos serei insone
viverei casas de projetos sem passado
tossirei o não-dito
não pelo empoeirado
mas pelo amanhecido após a chuva de um jardim
cedo ou tarde
memoria in albis
8/2/2000
sol a pino, sombras emergem
em forma de galhos ressequidos.
ao céu, talvez ao sol, se convergem
tentando agarrar o que restam dos rostos caídos
REFRÃO
veem os ossos do ofício
que vêm para o desperdício
em vagas que lhes sugam vagas
pálidos os olhos devotos em rostos
rasgando-se em névoas, implorando primaveras
brumas surgem urgindo-lhes,
veem-se eles impostos pelas internas quimeras
(REFRÃO)
em eternos retornos,
memoria in albis
marcapastros
10/8/2006
clarão de metais nos giros de (oce)anos no sangue das ostras
naufrágio de estrelas
sujeiras em suspenso incensos inquiridores (investígios: )
o que há de se pensar na arte no abraço dos fra(s)cos
fatos enfados fados enfados
(?)
sortilégios incertos
fardos
desvent-
suturas inflamáveis de vapores
corcéis indomáveis physistéreis
vertigens em cicatrizes
a (re)pulsação trôpega não foi feita para as pistas, (acrofobias)
muito menos para os caminhondulados crescimentos
de quedas
seus cabelos
meus toques rupedestres
na queima do ferruginoso óleo
devotos
direitos de escolhas
na alquimia dos motivos que compõem o paraíso nos
(adornos de) outros,
danças dos pássaros-trovão e
danações e perigos de
IDEALÍSIOS
ventos do retorno, porém sem a hipérbole dos prantos
fantasmáticos e palhasnos e malabarisos e mortos-portos e
o OCO arrebol
que tinge a pele preciociosa
não se insere papel-moenda...
a senda na senha
de socorros:
solidariedades (ao)
regenerar renegados (nas calamidades)
degredos segredos suspensos centeios
centelhas de sopros-vultos alheios gafanhotos
na projeção de um lar nos campos concentrações
há penas para o desabrigo resfôlego de chuvas
marcapastros:
o indiferente desconforto sem
mantos nos antros
mantras nos cantos
manes nos santos
cultivivos
antes do Verbo devolverevolverevoltos
(devolverevolverepousos)
sorriso do sul
3/3/2008
(* NOTA: Regravação da mesma canção contida no álbum "Prelúdio Tardio")
você roeu a mosca daquele almoço
com o seu sorriso do sul.
o asco com o qual ela foi mordida fez(-me) engolir o osso
do sopro cardíaco de sangue azul
e lábios lâmina de barbear.
onde a ponta de sensatez atingiu aquele infarto?
estamos em março e ainda haverá o ocaso
farfalhando o ser de todo lugar (com o seu sorriso do sul)
é certo que eu esteja assistindo risos,
mas você, sorriso do sul,
traumatiza os pés da caminhada de escaras de turismo
paciente terminal de parecer nenhum
silêncio que queima ostras
tocha humana do despejo de largada... a farsa
de seu espelho côncavo retroflexiona linguásas,
paisagem forasteira, boiada solta... e o seu sorriso do sul?
o nevoeiro encoraja os seus olhares,
e você ri com seu sorriso do sul
ao lembrar do canto das cigarras em naves da fertilidade;
galáxias moveram a fecundação-tempo
ao lançar satélites, contatos de densos sóis,
madrugadas nuns lances de sinuca, eis o universo
constelado ao alto e imerso e disperso
até o negrume percevejo de lençóis em seus sorrisos do sul.
e não há mais nada a fazer a não ser sorrir?
o que mais espelha nos dentes do sul?
talvez a vida da morte e a morte da vida ao se despedir
e partir para outra jornada de cidadão comum
em desemprego de fusos horários
desfruto de espaços nos domínios uterinos ao léu
maremotos despertos onde já não há mais céu
cumprindo destinos de todo oráculo com seu sorriso do sul
(aterrissado em lugar algum)