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LETRAS/ LYRICS


Escritas pelo próprio George Christian, exceto onde indicado.
Written by George Christian, except where appointed.


 

Do álbum Às Vezes Sempre (2010)

 













 

dança das colisões (outubro de 2008)

sem tempo para ter tempo 
sua face me gritou qual um diamante 
após consumada uma derrota... ou uma revolta... ou uma vitória... ou a história 

de não ter tempo para ser o tempo 
eis o peso de uma imensa estrela 
ASTÉRIA em suas artérias, amnésias em uma era, féericas férias 

não há porque lamentar se esta é a nossa miséria 
há-de se temer a inércia – e nada mais... 
e quanto mais ascende a clareira de mais uma lágrima, 
mais brotam as cicatrizes de uma passagem pela terra, 
liquefaz-se a pétala de frágil poema e de 
ausente brincadeira 

sem tempo de ver o tempo, eis o centro 
de sua estrela em mais uma vereda, 
eis um dilema de glissandos e staccatos, 
zunidos à ausência veloz 
de abrigos para as chuvas 
de um áspero e desdentado sorriso às ru(í)nas 
constelamares de desperta espera 


um último copo d’água adensa a alma 

ascese do suspiro: 
transpiração 

minha mãe, grito por um adeus 
meu pai, campo de batalha 

um sufoco 
por 
um socorro 

o que quer que tenha caído, 
nunca será meu 
mas 

do universo um vôo 

catarses de esquecimentos 
berço de memórias 



memórias de berço 
esquecimentos de catarses 

um vôo do universo 

mas 
nunca será meu 
o que quer que tenha caído 

um socorro 
por 
um sufoco 

batalha de campo, meu pai 
um adeus por grito, minha mãe 

transpiração: 
suspiro da ascese 

a alma adensa um último copo d’água 

perdas 

(e) 

 

ENGLISH:

dance of collisions (2010)

no time to have time, 
your face yelled me like a diamond 
after a consummate defeat... or a revolt... or a victory... or history 

of not having time to have time, 
here's the weight of a huge star 
ASTERIA in your artery, ammnesia in an era, fantastic vacations 

there's no need to regret if this is our misery, 
there's the fear of inertia - and nothing else... 
as much as the glade of one more tear arises, 
more the scars of a way in the earth sprout, 
and the petal of a frail poem and 
absent jest liquefies 

no time to have time, here's the center 
of your star in one more footpath, 
here's the dilemma of glissandos and staccattos, 
whistles to the quick absence 
of shelters from the rains 
of a harsh smile with no tooth to ru(i)n(e)s, 
constellaseas of awaken waiting 


a last cup of water accumulates the soul 
ascension of the whisper: 
transpiration 

my mother, scream for a goodbye 
my father, field of battles 

a suffocation 
for 
a succor 

what had to be fallen 
won't never be mine 
but 

from the universe a flight 
catharsis of forgetfulness 
cradle of memories 

and 

memories from the cradle 
forgetfulness of catharsis 

a flight of the universe 

but 
won't never be mine 
what had to be fallen 

a succor 
for 
a suffocation 

battle of fields, my father 
a goodbye for scream, my mother 

transpiration: 
whisper of the ascension 

the soul accumulates a last cup of water 

(and)

******************************************

Do álbum Prelúdio Tardio (2011)

 



 











Sorriso do Sul (03 de março de 2008) 

Você roeu a mosca daquele almoço 
com o seu sorriso do sul. 
O asco com o qual ela foi mordida fez-me engolir o osso 
do sopro cardíaco de sangue azul 
e lábios lâmina de barbear. 
Onde a ponta de sensatez atingiu aquele infarto? 
Estamos em março e ainda haverá o ocaso 
farfalhando o ser de todo lugar (com o seu sorriso do sul). 

É certo que eu esteja assistindo risos, 
mas você, sorriso do sul, 
traumatiza os pés da caminhada de escaras de turismo... 
Paciente terminal de parecer nenhum, 
silêncio que queima ostras... 
Tocha humana do despejo de largada... a farsa 
de seu espelho côncavo retroflexiona linguásas... 
Paisagem forasteira, boiada solta... e o seu sorriso do sul? 

O nevoeiro encoraja os seus olhares, 
e você ri com seu sorriso do sul 
ao lembrar do canto das cigarras em naves da fertilidade; 
galáxias moveram a fecundação-tempo 
ao lançar satélites, contatos de densos sóis, 
madrugadas nuns lances de sinuca, eis o universo 
constelado ao alto e imerso e disperso 
até o negrume percevejo de lençóis em seus sorrisos do sul. 

E não há mais nada a fazer a não ser sorrir 
o que mais espelha nos dentes do sul? 
Talvez a vida da morte e a morte da vida ao se despedir 
e partir para outra jornada de cidadão comum 
em desemprego de fusos horários, 
desfruto de espaços nos domínios uterinos ao léu, 
maremotos despertos onde já não há mais céu 
cumprindo destinos de todo oráculo com seu sorriso do sul... 
(aterrissado em lugar algum) 

ENGLISH: 

Southern Smile (Translation made in April, 2011) 

You gnawed the fly of that lunch 
with your southern smile. 
The loathing with which it was bitten made me swallow the bone 
of the blue blood’s cardiac whisper 
and razor lips. 
Where has the solidity’s tip reached that infarction? 
We’re in March and still there’ll be the sinking 
rustling the being in every place (with your southern smile). 

It’s certain that I’m watching laughs, 
but you, southern smile, 
traumatize the walking feet of tourism’s eschars… 
Terminal patient of no opinion, 
silence that burns oysters… 
Human torch of start dump… the farce 
of your concave mirror retroflex winged-tongues… 
Outsider landscape, loose cattle… and your southern smile? 

The mist encourages your sights 
and you laugh with your southern smile 
when you remember the cicadas’ singing in fertility’s vessel; 
galaxies moved the time-fertilization 
when launching satellites, heavy suns’ contacts, 
dawns in snooker’s moves, here’s the universe 
highly constellated, immersed and scattered, 
‘till the bedbug murk of sheets in your southern smiles. 

And there’s nothing to do unless smiling 
what mirrors most in your southern teeth? 
Maybe the death’s life and life’s death when saying goodbye 
and leaving for another ordinary’s journey 
in unemployment of time zones, 
enjoyments of places in uterine domains aimlessly, 
awaken tsunamis where there’s no more sky 
fulfilling destinies of every oracle with your southern smile… 
(landed anywhere)

***

Terminal (Poema escrito em 16 de junho de 2006)

vá 
e deixe sua sombra em paz... 

eu sei... 
janelas não se fecham mais 

alimento ao pôr-do-sol 

calma, 
lençóis da escuridão... 

tremores, 
vertigens no sono da sede 

eu peço 
oração ao frio vento, 

silêncio 
de olhos que cortam o ar... 

ENGLISH: 

Terminal (Translation made in April, 2011) 

Go 
and leave your shadow alone… 

I know… 
windows don’t close no more 

Feed for the setting of the sun 

Calm down, 
sheets of the darkness… 

Trembles, 
dizziness of the thirst’s sleep 

I ask 
prayer to the cold wind, 

Silence 
of eyes that cut the air…

**************************************


Tardio (Poema escrito em 03 de fevereiro de 2004) 

manhã tardia numa noite amanhecida 
prometo promessas que não sei se as farei 
matando o dia em manhã envelhecida 
de um quarto desgastado em fotos que sonhei 

noite tardia numa manhã adormecida 
sombras se tornam vultos da fé que verei 
arder em chamas de velas entristecidas 
pela soma de desperdícios que criei 

não se imploram chuvas em todo céu nublado 
não se movem os ventos pelos dias mortos 
o ar que você aspira não é o que o seu ar é de fato 

o meu ar foi incendiado pelo fogo-fátuo 
do vão de todos os meus gritos; pensei em seus olhos 
nascentes e cabisbaixos no sol dos portos 

******************************************************************** 
ENGLISH:

Late (Translation made in Sept. 20, 2009) 

Late in the morning in an evening dawn 
I make promises I don't know if I will 
By killing the day in an aging morn 
Of a worn room in photos I dreamt of 

Late in the night in a sleeping morning 
Shadows become figures of the faith I'll see 
Burning in flames of saddened candles 
For the amount of waste I've created 

Don't beg rainfalls in all the cloudy sky 
The winds don't move for the dying days 
The air you breathe isn't what your air really is 

My air was flared up by the night fire 
Of the vanity of all my screamings; I thought 
Of your rising droopy eyes in the sun ports

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Do álbum La Géographie sans Regret (2012)

 

 





 

 





 



Túneis (poema escrito em 20/11/2011, baseado num poema original escrito em 2003) 

ainda preciso de uma ponte entre a estrada escura e vazia 
e o movimento à revelia 
as vitrines são como fantasmas de sons supérfluos sem passado 
a um novo tempo em descompasso 

não há mais perfumes em meu corpo 
aonde quer que eu ande, corro contra o tempo 
os túneis estão abertos, não cobram pedágios 
nem documentos 

ficou uma dor nebulosa aqui entre todas essas fronteiras 
ao vagar sem planetas 
e ela nunca pede licença por permanecer sem ter um ser 
a cobrar por um lar 

ENGLISH:

Tunnels (poem written in 11/20/2011, based upon an original poem written in 2003) 

I still need a bridge between the dark and empty road 
and the movement in absentia 
the windows are like ghosts of unnecessary sounds without past 
to a new era of missteps 

there’s no more perfume on my body 
wherever I walk, I run out of time 
the tunnels are open, they don’t charge tolls 
and no documents 

there’s a cloudy pain here among all these boundaries 
wandering with no planets 
and it never asks permission to remain without a being 
charging for a home

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Abismo de Cravos (originalmente escrita em 2004) 


chão, aonde vai quando me escapa? 
tenho receios de que venho me cortando demais. 
levado em sua legião de farpas, 
de encontros de intimidades de escravos. 
acabo de saber que não sou capaz 
de ser mais um em você... 


expulse-me, vamos, do abismo de cravos, 
onde sou muitos, tão cru e só, 
traças destroem o silêncio de seus centavos 
que você paga para me desatar o nó 

a cidade é cheia de cinzas do ermo 
que você era quando não era demais. 
tocas de raposas lhe davam servos, 
era o princípio, era a era, era o fato 
que existia até que alguém desfaz 
o que há de convir em você... 

a fome dos cravos é uma derrota 
que ronca canções atordoantes demais... 
seu cérebro zera as minhas esmolas 
sem vestígios, sem vestidos, sem litígios. 
desocupo-me com o voo de sinais 
que eu mando a você... 


ENGLISH: 


Abyss of Carnations (originally written in 2004) 

ground, where are you when you escape me? 
I'm afraid I'm cutting myself for too much. 
taken into its legion of barbs, 
of meetings of intimacy of slaves. 
now I've found out that I'm not able 
of being just another one into you... 

so, c'mon, cast me out from the abyss of carnations, 
where I am many, so raw and so alone, 
moths destroy the silence of the cents 
that you pay me for to untie the node 

the city is full of ashes from the wilderness 
that you were when you weren't too much. 
burrows of foxes gave you servants, 
it was the beginning, the era, and the fact 
that existed until someone breaks 
what must covey into you ... 

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Voo Cinzento (16/07/2001, reescrito em 15/06/2004) 

voo cinzento num corpo macilento 
machucando-a eternamente com o vento, 
e o pai ainda pensa que a segura neste cimento 

terremotos ganhos por mortos 
destruindo por encherem-na num corpo, 
e o pai ainda pensa que a vê com seus próprios olhos 

verdes afetos abortados como fetos 
abrindo feridas carcomidas por insetos, 
e o pai ainda pensa que há sustento neste teto 

e o pai ainda pensa que a vê com seus próprios olhos 

o cimento de seus olhos neste teto 
precisa de uma porta, 
e ele a olha, e ele a olha 
à luz 
de um voo 
cinzento 

o lamento de sua filha neste voo 
precisa de um pai 
que a desperte e a liberte 
à luz 
de um grito 
à luz 
ao vento 
cinzento 

ENGLISH: 

Ashen Flight (July 16, 2001 (rewritten in June 15, 2004)) 

ashen flight in a peaked body 
hurting her forever with the wind 
and the father still thinks that holds her in this cement 

earthquakes gaining for killings 
destroying by filling her in a body 
and the father still thinks that he sees her with his own eyes 

green affections aborted as fetuses 
opening wounds eaten by insects 
and the father still thinks there is support in the ceiling 

and the father still thinks that he sees her with his own eyes 

the cement of your eyes in this ceiling 
needs a door 
and he looks and looks it 
at the light 
of a flight 
of ashes 

the lament of his daughter on this flight 
needs a father 
that wakes and releases her 
at the light 
of a cry 
at the light 
at the wind 
of ashes


the carnations' hunger is a defeat 
that snores painful songs for too much... 
your brain resets my charities 
without a trace, without clothes, without litigation. 
I empty myself with the flight of signals 
that I send just for you...

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Muito Mais Longe do que o Bastante (11/12/2008 – nova versão: 14/6/2012) 

muito mais longe do que o bastante, 
perto demais de ter o instante 
de surda luz, indômitos cavalos mentem fases ao fardo lunar 

velhos demais de tão incertos, 
jovens demais de tão despertos, 
os olhos nus não enxergam mistérios, 
mas suas sombras acordam universos 

planetas fogem e colidem rotas 
de vidas cegas sem voltas 
estrelas em eclipse na longa estrada 
de sol a Sol 

muito mais longe do que o bastante, 
mais absorto e mais vacilante, 
não mais homem do que um simples feto ao nadar nos espelhos 
quando não há nada mais do que o nascimento 

devo ser liberto de tantas amarras 
devo ser repleto de novas respostas 
devo ser o sol no pó da estrada 
de sol a Sol

ENGLISH:

MUCH MORE FARTHER THAN ENOUGH
(December, 2008/ June, 2012)

much more farther than enough
too close to have the moment
of deaf light, indomitable horses lie the burden lunar phases

too old to be uncertain,
too young to be awaken,
the naked eye cannot see mysteries,
but their shadows agree universes

planets collide and escape routes
of lives without blind turns
stars eclipsed in the long run
from sun to sun

much more farther than enough
more absorbed and hesitant,
not much a man than a fetus while swimming in the mirrors
when there’s nothing more than the birth

i must be freed from so much tethers
i must be full of new responses
i must be the sun in the dust of the road
from sun to sun 

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Do álbum Afluentes (2013)













Wish Wash (Lyrics by George Christian, inspired by a Danielle Demos' theme) 

Poem written in July 10th, 2009. 

well, your time upon the Earth.... 
is circling through a washing machine (left unpractical).... 
of your Self.... 
.. .. 
all you have to do is WALK your duck.... 
to the lagoon of melting ice.... 
where I see in the destiny of your eyes.... 
.. .. 
the recording industry does not care .... 
about the history of your memory….... 
.. .. 
all you have to do is WALK.... 
the march of desperate souls.... 
in your outfit.... 
.. .. 
your dreams are washed AAAAWAAAAAAYYYY!!!!!!!!!!!!.... 
.. .. 
(do you need any buck?) (GO GET A JOB!).... 
.. .. 
inside the cancer of the times,.... 
you go UPsssss… TAAAAAAAAAAAIIIIIRS.... 
(with the absence of responsibility of elevating .... 
.... 
your Self).... 
.. .. 
you cannot punish yourself.... 
because of the color of your skin….... 
then, why the regret?.... 
… why the regret?.... 
.. .. 
how could you… fuck yourself.... 
when you don’t have SEX.... 
to elevate your SELF?.... 
.. .. 
you’re just an innocent angel doped with your sleeping pills.... 
dancing into the veil of Irony, Ivory Irony….... 
.. .. 
sleepwalking while… AWAKES.... 
the laughing stock of mochery.... 
in ..Paradise...... 
.. .. 
(come on, sing-along this lullaby with me:).... 
and your dreams have to washed AAAAAWAAAAAAAYYYYYY!!!!!....
.. .. 
(do you need anything else?) (GOOD LUCK!).... 
.. .. 
the inner lunacy is reflected underwater.... 
where a translucent museum of broken skyscrapers was built....
to glorify.... 
your wishes.... 
washed.... 
wissshhhh….... 
waaasssshhhh….... 
.... 
“Your desire is an ORDER”.... 


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(Terminal) with a Dress (2008)


Lyrics by Tod Shelton 

I would be. alone. 
If I could not take a home. 
A home alone... 
Could not expose I to none. 

I would be neutral... 
In a chorus of radical format. 
Classics that break my face. 
My nose is gushing. 

That's kind of you. 

Right away- I learn- cold plastic- by children. 

Know one no one I'm not ill... 
I be sick- cold with a body. 

My own legs I love... 
To walk with myself... 
On My own street... 
I met you walking your... 

Cat, sexually dressed I touched- 
Myself in a costume... 
In a dress... 
In a pair of. 

Your old paints... 
I stained them with my protein. 

NO ONE LISTENS TO ME. 
I TRIED TO FORCE THEM TO SAFETY

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Do álbum desvãos do sol (2014)


















aurora louca
escrita em 10/10/2001 
(atualização: 2/7/2006) 

aurora louca 
a hora louca e afoita 
a procurar numas bocas 
o que nunca foi o seu natural 

a fome ao engolir 
as neves do porvir 
a tormenta por tanto ir 
às bocas como água sem sal 

cor-de-sangue, à mercê de balas perdidas, 
de facas mutiladoras de palavras 
e de pedidos por mais alguns trocados 

a aurora louca 
aroma em crepúsculos 
desprezos aos goles de apuros 
enganos de velhos mundos 

aurora insípida e de fogos-de-artifício 
procura o seu sal 
procura o seu sal 

aurora louca 
aura louca e afoita

************************************************************
véspera de nada
escrita em 12/05/2014 

eu não 
sou 
porém 
serei 
o que 
não sou 
à toa 

se assim 
me quer 
existo 
se não 
não se 
iluda 

senão 
se o sim 
se der 

assim sou 
ou nada


Do álbum Paz Revolta (2016)

















lua nova
14/09/2011 

lua nova que rompe a tarde 
à margem não vou estar 
em ser o sol de toda parte 
à face, ao vento, vejo o medo 
que não está em todo o mar 
ao mergulhar o tempo 
de lançar-se em cada olhar 
e não mais brilhar tão cedo 

lua nova que fecha o sono 
e ceifa o novo ar 
leve o tempo de cada outono 
e brote a névoa a gear 

novas vidas num só toque 
à sorte de semear 
sopros em revoadas, vozes 
em mortes por amar 

lua nova que rompe a tarde 
à margem não vou estar...

*****************************************

the way the life is
04/04/2011 

well, it must be 
the way the life is 

giving some chances 
losing expectations 
finding how much they hurt your life 

to learn what's the answer 
to learn how to live 
(to learn how to love) 
it's so strange, so strange...

***********************************
paz revolta
(14/08/2016) 

paz, volta, 
voltar à paz 

paz, se volta, 
revolta-se a paz 

paz revolta 
re-volta(-se) em paz 

revoltar a si 
em paz 

paz de volta, paz revolta 
(re)volta-se em paz


Do álbum Exílios 1 (2017)












lançado ao uno
(01/01/2011)

no limiar do sem tempo, 
estou prestes a explodir 
o que minha sombra 
acolheu em mim 

atendo ao seu chamado, 
peço que me diga, Morfeu, 
por que, por acaso 
peço por seu adeus 

não adianta blefar com o ocaso de um corpo 
pois perto estou da chama e você há de pedir socorro 
enquanto dorme e descansa 

corpos celestes haverão de ser sacrificados 
e dilacerar-se-á toda hóstia nas ruínas do agora cristal 
missal de asteróides 

Cristo em orbes interplanetários 
na morada do Sempre

Do álbum
Exílios 2 (2017)

















 

melhor não
2/6/2004 (atualização: 3/6/2008)

 

ela voou até um céu onde não mais  existem estrelas-guias no oceano

desperdiçou-se com beijos em terras onde as flores não se abrem em campos santos
seu vestido em trapos habita um cemitério
cujas lágrimas se perderam num rosto incerto
diante da solidão
à espera de um melhor não para não viver

 

seus cabelos desgrenhados escondem uma beleza que não se danifica com o vento

não se sabe o que ela vela numa escuridão de repentinos esquecimentos

sua morte sabe como respirar a eternidade
sua aurora se expande em nuvens por toda parte

em qualquer estação

à espera de um melhor não para não viver


seus ossos frios são acobertados pelo vapor marinho de elétricas geadas

ela percorre caminhos com pés de gelo seco que incendeiam insólitas matas

ela não quer se reconhecer fantasma
mas se desorienta em corpos como nevasca

cai em violento tufão

à espera de um melhor não para não viver
 

arrastando pessoas como meros gravetos, ela as sacrifica nas úmidas florestas

ao fragilizar-se com o calor, ela busca em si o que sumiu em suas primaveras

vividas outonais em veraneios de invernos

abortada em vida, ela é um crescido feto

feito de imprecisão

à espera de um melhor não para não viver

 

         nuvens de vidro       
7/11/2004

 

nuvens de vidro acenderam seus olhos e eu chorei sangue

é uma noite de chuva e sem luas de foice cortando o instante

das janelas que os meus olhos visitam em memórias de transes

 

tudo que eu preciso saber é se morei em algum lugar

que me acolheu

em você

 

atrasos se desmarcam e eles se acorrentam a sonhos de novas eras

horas se derretem em horários de verão e eu durmo pedras

e as estrelas cadentes são os meus sonhos matutinos caindo...

que se ascenda do desejo

um pedido,

então

 

não espere
19/12/2006

 

sinto o olfato de mil anos

no orvalho das chamas

ventos de abandonados féretros

em feéricas casas

 

revive o fato de que tudo permanece

inclusive o fim

de que tudo merece o destino

de seus olhos

não me aguarde, não me guarde, não me arde

nos laços de seus braços;

sinta o real frescor de ser indomável

e não me espere...

 

pelo lado que aquece o seu rosto

há o medo que esfria o outro

espelhos partem e as sombras esguias

às gerações de mapas

 

certo estou de que não mereço perdão

pelo retorno que tributo

ao adiamento de todos os passados flutuantes

à quebra e ao luto

 

não me aguarde, não me guarde, não me arde

nos laços de seus braços;

sinta o real frescor de ser indomável

e não me espere...

Do álbum Exílios 3 (2018)














 

auroras do exílio 3
(título original: sucessivas surras) 
20/8/2001

 

andamos e escalamos formigueiros

como se ainda estivéssemos insetos

os passos voam tão distantes de tudo

que, sem saber, revoam névoas inquietos

não há virgens, cafetões ou prostitutas

para arrastar um andar incerto

e indeciso de tanto receber

sucessivas surras dos ventos

 

destroem-nos com dinheiro e lábias

retorcidas de tanto engolirem subornos

amanhecem-nos para estupros diários

só para amedrontar rostos no lodo

querem milhas e milhas do alcance

de nossos olhos tratando-nos como tolos

por estarmos cegos de tanto receber

sucessivas surras dos ventos

 

o sol cegou-nos a fé e a faca

só para obtermos orgulho divino

a chuva molhou-nos as cinzas dos tempos

em que morríamos por estarmos vivos

e a noite surtou-nos os sensos

por medidas de segurança e o circo

se fez com inúmeros palhaços ao receber

sucessivas surras dos ventos

 

ensangüentados somos iguais uns aos outros

por sucessivas surras dos ventos dos deuses e dos demônios

 

livre   
9/8/2002

 

entre as chuvas dos bairros

sobre os muros as pichações

dos aluviões

 

a moita tem tom sépio

traços grosseiros esperam os ônibus

eles estão vivos

 

o céu é igual em qualquer local

o dia acabou e eu aqui estou

tentando me esquecer

livre

 

bebe os sucos o vazio

de todos os anúncios e todos os preços

desde o berço

não começo

não cresço



regresso  
27/5/2007

 

todos os anjos que se avizinharam às minhas sombras partiram em mim as idéias de regresso

 

de nada adianta

aos sonâmbulos olhos serei insone

 

viverei casas de projetos sem passado

tossirei o não-dito

 

não pelo empoeirado

mas pelo amanhecido após a chuva de um jardim

 

cedo ou tarde


memoria in albis
8/2/2000

sol a pino, sombras emergem
em forma de galhos ressequidos.
ao céu, talvez ao sol, se convergem
tentando agarrar o que restam dos rostos caídos

REFRÃO
veem os ossos do ofício
que vêm para o desperdício
em vagas que lhes sugam vagas

pálidos os olhos devotos em rostos
rasgando-se em névoas, implorando primaveras
brumas surgem urgindo-lhes,
veem-se eles impostos pelas internas quimeras

(REFRÃO)

em eternos retornos,
memoria in albis


 

marcapastros 
10/8/2006

 

clarão de metais nos giros de (oce)anos                    no sangue das ostras

naufrágio de estrelas

sujeiras em suspenso                          incensos          inquiridores                       (investígios: )

 

o que há de se pensar na arte                                     no abraço dos fra(s)cos

 

fatos                enfados           fados               enfados                                                         

                                                                                                                                             (?)

 

                                                                                              sortilégios       incertos

                                                                                                                                    fardos

desvent-

             suturas inflamáveis de vapores

 

corcéis indomáveis                                                    physistéreis

 

                                   vertigens em cicatrizes

 

a (re)pulsação trôpega não foi feita para as pistas,                           (acrofobias)

 

muito menos para os caminhondulados                    crescimentos

                                                                                                          de quedas

                                                                                  seus cabelos

                                                           meus toques                                       rupedestres

na queima do ferruginoso óleo

                                                           devotos          

                                                                      direitos de                  escolhas

 

na alquimia dos motivos que compõem o paraíso nos

(adornos de) outros,

 

                                   danças dos pássaros-trovão e

                                   danações e perigos de

                                                                                                                      IDEALÍSIOS

 

ventos do retorno, porém sem a hipérbole dos prantos

 

fantasmáticos e palhasnos e malabarisos e mortos-portos e

                                                                                                                      o OCO arrebol

 

que tinge a pele                                              preciociosa

não se insere               papel-moenda...

 

a senda na senha

de socorros:               

                       solidariedades (ao)

 

regenerar renegados                                                  (nas calamidades)

 

degredos                                segredos                     suspensos                               centeios

 

centelhas de sopros-vultos alheios                            gafanhotos

 

na projeção de um lar nos campos                                                                    concentrações

 

há penas para o desabrigo                                                     resfôlego de chuvas


marcapastros: 

o indiferente desconforto sem

 

mantos                                                           nos antros

mantras                                              nos cantos

manes                                                 nos santos                  

                                                                                  cultivivos

antes do Verbo                                                                                 devolverevolverevoltos

 

 (devolverevolverepousos)


 

sorriso do sul    
3/3/2008

(* NOTA: Regravação da mesma canção contida no álbum "Prelúdio Tardio")

 

você roeu a mosca daquele almoço

com o seu  sorriso do sul.

o asco com o qual ela foi mordida fez(-me) engolir o osso

do sopro cardíaco de sangue azul

e lábios lâmina de barbear.

onde a ponta de sensatez atingiu aquele infarto?

estamos em março e ainda haverá o ocaso

farfalhando o ser de todo lugar (com o seu sorriso do sul)

 

é certo que eu esteja assistindo risos,

mas você, sorriso do sul,

traumatiza os pés da caminhada de escaras de turismo

paciente terminal de parecer nenhum

silêncio que queima ostras

tocha humana do despejo de largada... a farsa

de seu espelho côncavo retroflexiona linguásas,

paisagem forasteira, boiada solta... e o seu sorriso do sul?

 

o nevoeiro encoraja os seus olhares,

e você ri com seu sorriso do sul

ao lembrar do canto das cigarras em naves da fertilidade;

galáxias moveram a fecundação-tempo

ao lançar satélites, contatos de densos sóis,

madrugadas nuns lances de sinuca, eis o universo

constelado ao alto e imerso e disperso

até o negrume percevejo de lençóis em seus sorrisos do sul.

 

e não há mais nada a fazer a não ser sorrir?

o que mais espelha nos dentes do sul?

talvez a vida da morte e a morte da vida ao se despedir

e partir para outra jornada de cidadão comum

em desemprego de fusos horários

desfruto de espaços nos domínios uterinos ao léu

maremotos despertos onde já não há mais céu

cumprindo destinos de todo oráculo com seu sorriso do sul

(aterrissado em lugar algum)

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